quarta-feira, 14 de julho de 2010

Entrevista com Marcos Strecker sobre OTR

Cineasta em movimento

Prestes a começar as gravações de seu novo longa-metragem, a adaptação do livro On the Road, de Jack Kerouac, a convite de Francis Ford Coppola, Walter Salles tem sua vida contada e filmografia comentada pelo jornalista Marcos Strecker em Na Estrada – O Cinema de Walter Salles.

O livro não é daquelas biografias que contam em detalhes a infância do biografado e muito menos uma descrição da filmografia quadro a quadro. É uma junção das duas coisas: narra as histórias do pequeno Salles na França de 1960, a decisão de se aventurar pelo cinema, seus primeiros filmes, seu interesse por road movies, prêmios, experiências e traz ainda 18 artigos de vários temas de quando ele era colunista da Folha de S. Paulo.

Strecker acompanha a carreira de Salles desde o início, em 1989, quando começou a filmar A Grande Arte e, por isso, analisa toda a obra do cineasta no contexto brasileiro.

Pergunta:
Como você define o livro: uma biografia, uma cinebiografia? E como decidiu estruturá-lo?

Marcos Strecker: Na Estrada é um livro sobre a obra Walter Salles, que é um cineasta do mundo. Mas para escrever sobre o seu cinema, era necessário também falar sobre sua origem, sobre sua vida e seus valores. Por isso falo sobre sua infância e adolescência, sobre a paixão pelo automobilismo, que pouca gente conhece, por exemplo. Explico o cinema pela vida, mas também tento explicar por que filmes como Diários de Motocicleta e Central do Brasil são tão importantes. Por isso acho que a expressão cinebiografia define bem o livro.

Pergunta: Ao distanciar-se do estilo de Glauber Rocha, Salles criou um estilo, uma linguagem própria em seus filmes?

Strecker: Não acho que ele teve a intenção deliberada de se afastar de autores como o Glauber Rocha, que foi o mais brilhante do Cinema Novo. Mas o Salles criou uma linguagem própria e autêntica ao traduzir, para o universo brasileiro, cinematografias modernas e inovadoras do Exterior, como a do Wim Wenders, e não seguir o que se fazia aqui. Ele reelaborou o que viu no Exterior e transformou em algo profundamente brasileiro, como faziam os modernistas. O Salles, aliás, é produtor atualmente do filho do Glauber, o Erik Rocha, o que mostra seu respeito por grandes nomes que marcaram o cinema brasileiro.

Pergunta: Por que Coppola acabou escolhendo Salles, um brasileiro, para fazer um filme tão complexo como On the Road?

Strecker:
Foram o talento, a seriedade e a coerência que Salles mostrou em Diários de Motocicleta que levaram ao convite para dirigir On the Road. É uma história transgressora, sobre filhos de imigrantes que desejavam viver intensamente. Acho muito significativo que um brasileiro tenha sido escolhido para traduzir essa obra tão importante para a sociedade americana. Talvez os EUA da era Obama estejam mais preparados para enxergar esses personagens não conformistas, que vivem à margem do sonho americano.

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/pioneiro/rs/impressa/11,2969932,157,15090,impressa.html