domingo, 30 de maio de 2010

Walter Salles fala sobre OTR em lançamento de livro

Mais sobre LuAnne Henderson aka "Marylou", interpretada por Kristen Stewart




Um trecho de "Mulheres da geração Beat": os escritores, artistas e musas no Livro sobre MaryLou (Louanne Henderson)



Uma vez descrita por Jack Kerouac como “ uma ninfeta de cabelos sujos, longos e loiros”, era a noiva de 16 anos de Neal Cassady, quem ele deixou por Carolyn. Neal tinha visto os lindos cachos de Luanne numa farmácia e anunciou: “Essa é a garota com que vou casar”. Um mês depois- ele casou-se numa terrível nevasca antes do Natal. Eles decidiram ter a lua de mel na estrada e dirigiram-se para New York num carro roubado com poucas roupas, um volume de Shakeaspeare, e um de Proust “O tempo redescoberto”.
Luanne era aventureira como Neal, o personagem da garota em On The Road é baseado nela.

Algumas fotos:



domingo, 16 de maio de 2010

Entrevista com Walter Salles para O Globo

Walter Salles diz que não fará de 'On the road' um filme de época e lamenta o conservadorismo atual

André Miranda

Walter Salles, enfim, vai colocar o pé na estrada. Depois de pelo menos cinco anos trabalhando para levar um dos mais importantes livros da contracultura, o clássico "On the road", de Jack Kerouac, para o cinema, o diretor anunciou que as filmagens começam em agosto. Antes mesmo do envolvimento de Salles, o projeto vinha sendo preparado pela produtora American Zoetrope, de Francis Ford Coppola, há 30 anos. Mas nunca saiu do papel.

Salles reverteu todas as dificuldades com uma enorme dedicação. Ele fez uma longa viagem pelos EUA, atrás dos locais e das pessoas citadas por Kerouac em seu livro, e fez dessa pesquisa um documentário, "Em busca de On the Road", ainda inédito. Para a ficção, já estão confirmados no elenco os atores Sam Riley ("Control"), Garrett Hedlund ("Tron - Legacy"), Kristen Stewart ("Crepúsculo") e Kirsten Dunst ("Homem-Aranha"). Em entrevista ao GLOBO, o diretor explicou seu interesse por "On the road".

Por que a demora para que "On the road" seja adaptado para o cinema?

WALTER SALLES: Faz parte da natureza do projeto. Estamos falando, como Coppola bem o definiu, do nascimento da contracultura, e não da adaptação de quadrinhos da Marvel. Por outro lado, tendo a favorecer processos longos de desenvolvimento: foram necessários mais de três anos para "Central do Brasil" se tornar realidade, quatro anos para "Diários de motocicleta" e agora cinco para "On the road". No caso deste filme, havia uma história pregressa que não era muito diferente da de "Diarios...", com tentativas anteriores de tradução do livro para o cinema. Essa espera acabou sendo benéfica ao projeto. Deu mais tempo para conceitualizar o filme, o que é fundamental. E, mais recentemente, saiu a versão original do livro de Kerouac. É muito mais livre, ousada e radical do que a versão que foi editada em 1957 e que sofreu os efeitos da censura da era McCarthy. A versão original do livro deu origem à versão final do roteiro escrito por Jose Rivera. Isso não teria acontecido se tivéssemos filmado há dois anos.

O quanto a experiência em "Diários de motocicleta" vai ajudar na realização de On The Road? Você enxerga as duas histórias como paralelas? São duas viagens que envolvem descobertas. De naturezas diferentes, lógico, mas ainda assim descobertas...

SALLES: Um projeto é de certa forma o prolongamento do outro. "Diários de motocicleta" é um filme sobre o despertar de uma consciência sócio-política, a partir do desvendamento do continente latino-americano, numa viagem de dois jovens em busca do desconhecido. "On the road" é o ponto de partida de um outro tipo de revolução, a revolução comportamental dos anos 50 e 60. É o que o poeta Lawrence Ferlinghetti chama de youth revolt, uma revolta jovem, que acabou afetando profundamente as nossas vidas.

Você pretende de alguma forma atualizar a história ou as referências culturais serão as mesmas de quando Kerouac escreveu o livro?

SALLES: Como em "Diários...", não há a intenção de se fazer um filme de época, como se vê, às vezes, nos cinemas inglês ou norte-americano. O que é fascinante na história é sua modernidade. Aquela época aparecerá nos concertos de jazz, nos encontros à margem da estrada, nos bares onde parecia possível reinventar o mundo. Era uma época em que as pessoas viajavam mil quilômetros para uma boa conversa.

A história de "On the road" pode ter o mesmo efeito nos jovens de hoje como teve nos anos 1950 e 1960? Por exemplo: será que a ideia de ultrapassar os limites, ir além das fronteiras, será que isso tudo ainda teria o mesmo efeito?

SALLES: A viagem aqui é, basicamente, interior. Estamos falando de personagens que tiveram a coragem de se reinventar contra a sua época, contra tudo e contra todos. Em muitos casos, os anos que estamos vivendo são tão conservadores quanto os anos 50. É nisso que essa história é interessante: ela permite entender que, mesmo quando tudo conspira contra, é possível inventar novas formas de nos relacionar com o mundo. Repensar o conceito de família, as relações afetivas, o sexo. Essa qualidade libertária e também transgressora é o que torna a historia tão moderna.

Qual foi sua principal descoberta na pesquisa?

SALLES: Cruzando os Estados Unidos de ponta a ponta nos passos de Kerouac, encontramos não só os personagens do livro que ainda estão vivos, mas também os poetas da sua geração. Acabei percebendo que esses homens e mulheres que tiveram a coragem de abrir essas janelas nos anos 50 e 60 são muito mais jovens do que muitos jovens de hoje em dia.

fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/05/14/walter-salles-diz-que-nao-fara-de-on-the-road-um-filme-de-epoca-lamenta-conservadorismo-atual-916589276.asp

sábado, 8 de maio de 2010

Sobre Jack Kerouack



Jack Kerouac nasceu em Lowell, Massachusetts, em 12 de março de 1922; era o mais novo de três filhos de uma família de origem franco-canadense. Começou a aprender inglês apenas aos seis anos de idade, estudou em escolas católicas e públicas locais e, como jogava futebol americano muito bem, ganhou uma bolsa para a Universidade de Columbia, em Nova York. Nesta cidade conheceu Neal Cassady, Allen Ginsberg e William S. Burroughs. Largou a faculdade no segundo ano, depois de brigar com o técnico de futebol, foi morar com uma ex-namorada, Edie Parker, e juntou-se à Marinha Mercante em 1942 – dando início às jornadas infindáveis que se estenderiam por boa parte de sua vida.

Em 1943 alistou-se na Marinha, de onde foi dispensado por razões psiquiátricas. Entre uma e outra viagem, voltava para Nova York e escrevia o seu primeiro romance, The Town and the City ( cidade grande e cidade pequena) , publicado em 1950, sob o nome de John Kerouac. Este primeiro trabalho era fortemente influenciado pelo estilo do escritor norte-americano Thomas Wolfe e foi bem recebido.

Em abril de 1951, entorpecido por benzedrina e café, inspirado pelo jazz, escreveu em três semanas a primeira versão do que viria a ser On the Road. Kerouac escrevia em prosa espontânea, como ele chamava: uma técnica parecida com a do fluxo de consciência. O manuscrito foi rejeitado por diversos editores. Em 1954, começou a interessar-se por budismo e, em 1957, On the Road foi finalmente publicado, após inúmeras alterações exigidas pelos editores. O livro, de inspiração autobiográfica, descreve as viagens através dos Estados Unidos e México de Sal Paradise e Dean Moriarty. On the Road exemplificou para o mundo aquilo que ficou conhecido como a "geração beat" e fez com que Kerouac se transformasse em um dos mais controversos e famosos escritores de seu tempo – embora em vida tenha tido mais sucesso de público do que de crítica e embora rejeitasse o título de “pai dos beats”.

Seguiu-se a publicação de The Dharma Bums (os vagabundos ilumimados) – um romance com franca inspiração budista –, The Subterraneans(Os subterrâneos) em 1958, Maggie Cassidy, em 1959, e Tresitessa em 1960. A partir daí, Kerouac tendeu à direita, politicamente: criticava os hippies e apoiou a guerra do Vietnã. Publicou ainda Big sur e Doctor Sax, em 1962, Visions of Gerard, em 1963, e Vanity of Duluoz,em 1968, entre outros. Visions of Cody, considerado por muitos o melhor e mais radical livro do autor, só foi publicado integralmente em 1972. Ele morreu em St. Petersburg, Flórida, em 1969, aos 47 anos, de cirrose hepática. Morava, então, com sua mãe e sua mulher, Stela. Escreveu ao todo vinte livros de prosa, e 18 de ensaios, cartas e poesia.


fonte: http://www.lpm-editores.com.br/site/default.asp?TroncoID=805134&SecaoID=948848&SubsecaoID=0&Template=../livros/layout_autor.asp&AutorID=63

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Walter Salles elogia atuação de Kristen Stewart e diz que atriz foi "fiel ao projeto"

Depois de confirmada a participação de Kristen Stewart no filme ''On The Road", o cineasta Walter Salles, em comunicado divulgado por sua assessoria, fez elogios à atriz, conhecida principalmente pela saga "Crepúsculo". “Convidei Kristen Stewart há quase dois anos, depois de ter ficado impactado pela sua atuação em ‘Na Natureza Selvagem’, de Sean Penn”, diz. “Ela conhece o livro de Kerouac a fundo, e permaneceu fiel ao projeto durante todo o tempo em que o filme procurava financiamento. É uma atriz que não recusa o risco, como o personagem incandescente que ela vai viver. Ela poderia estar estrelando projetos com orçamentos muito maiores, mas fez a opção de participar de um filme independente, produzido por uma companhia francesa, pelo que o filme diz".

O cineasta também cita o ator Garrett Hedlund, "jovem ator que participou do longo processo de casting realizado para o filme, e fez um ótimo teste para o personagem de Dean”. Na trama, inspirada na obra literária famosa de Jack Kerouac, Hedlund dará vida a Dean Moriarty. Já Sam Riley interpretará o protagonista Sal Paradise, espécie de alter ego de Jack Kerouac, e Stewarts será Marylou, esposa de Dean.

O projeto de "On The Road" começou a se desenvolver há 30 anos pela produtora de San Francisco American Zoetrope. Atualmente, após quatro anos de pesquisa para o filme, há uma parceria com a produtora francesa MK2, que está adquirindo os direitos e deverá produzi-lo em colaboração com a Film 4, do Reino Unido. As filmagens devem acontecer nos Estados Unidos (cidades como San Francisco e Nova Orleans são cotadas), Canadá e México. A montagem será feita no Brasil.


Fonte: http://cinema.uol.com.br/ultnot/2010/05/07/walter-salles-elogia-atuacao-de-kristen-stewart-e-diz-que-atriz-foi-fiel-ao-projeto.jhtm

quinta-feira, 6 de maio de 2010

On the Road e Jack Kerouak por Eduardo Bueno (tradutor)

Trecho da "longa e turtuosa estrada profética", introdução de Eduardo Bueno para a edição brasileira de On the Road.

Americano de origem franco-canadense, Jack Kerouac nasceu em 12 de março de 1922 em Lowell , Massachusetts. Católico praticante, educado em colégio jesuíta, fixado na figura da mãe, tímido, introspectivo, generoso, gentil, desajustado e angelical.

Até os 6 anos, Jack só falava o joual – o dialeto franco-canadense – e isso talvez explique não apenas sua permanente sensação de rejeição, sua postura marginal, como também sua paixão latina pelas vogais numa terra protestante obcecada pelas consoantes. Antes da consagração de On the Road, Jack fracassara em tudo na vida. E nesse tudo é preciso incluir , além de quase uma dezena de bicos e profissões, os seis livros que escreveu entre 1951 e 1956 sem conseguir ver publicações.

On the Road foi escrito entre 9 a 27 de abril de 1951 num rolo de papel para telex, num total de quarenta metros ininterruptos de prosa em espaço um sem parágrafo, por Kerouac aditivado por doses colossais de benzedrina, datilografando como um alucinado por doze mil palavras, 14 horas por dia.


Jack com o manuscrito original de On The Road

Mas, ao longo dos longos anos em que o original foi sendo recusado por uma editora após a outra, Kerouac o reescreveu inúmeras vezes. Além disso, quando a Viking Press enfim decidiu lançar o livro, forçou Jack a suprimir cerca de 120 páginas. Outas tantas o próprio editor, Malcolm Cowley, se encarregou de cortar. Por isso, sua “prosa instantânea” praticamente inexiste em On the Road, embora tenha se materializado em outros livros, especialmente em Visions of CCody, lançado postumamente.

On the Road, no entanto é o mais lendário, mais famoso, mas talvez não seja o melhor dos 23 livros que Jack Kerouac escreveu em 47 anos de vida.

O posto bem poderia ser ocupado por Visions of Cody, também dedicado a Neal Cassady, o Dean Moriarty de On the Road. Redigido em 1951 e publicado em 1971, Visions of Cody resume a apreende todo o esforço de Kerouac em modular os contornos de sua “prosa instantânea” e remete ao On the Road original, antes de sua submissão às “sugestões “ dos editores.

Jack e Neal Cassady

Em ambos os livros, Kerouac empenhou-se em uma nova prosódia, capturando a sonoridade das ruas, das planícies e das estradas dos EUA, disposto a libertar a literatura noite-americana de determinadas fórmulas europeias. Ao fazê-lo, introduziu um som a prosa - antes e melhor do que qualquer romancista de sua geração.

O livro traz também ressonâncias de Jack London, de Mark Twain, de John dos Passos e acima de tudo de Walt Whitman. Em certo sentido, portanto, Kerouac não estava impondo, nem propondo, uma total inovação , mas a retomada de uma trilha genuinamente americana, já percorrida por autores que ele admirava.

O mais irônico é que ele desenvolveu seu estilo - seu estilo beat por excelência: laudatório, verborrágico, impressionista, vertiginoso, incontido, espontâneo, repleto de sonoridade, de gíria, de coloquialismo e de aliterações, não a partir de fontes literárias clássicas mas com base nas cartas quase iletradas que recebeu de Neal Cassady, o delinquente juvenil que, no capítulo um de On The Road, vem procurar Jack para aprender a “ser escritor”.

Embora seja uma obra de ficção todos os personagens e acontecimentos do livro são reais: Carlos Marx é o poeta Allen Ginsberg, autor de Uivo. Old Bull Lee é Willian Burroughs, autor de The Naked Lunch (almoço nu), Camille é Carolyn Cassady, mulher de Neal, amante de Jack e autora do livro de memórias Off Road.

De todo modo , não seriam Neal Cassady nem Visions of Cody, mas Jack Kerouac e On the Road , o autor e o livro que moveram montanhas. O fôlego narrativo avassalador, o imaginário proto-pop, o frescor libertário , o fluxo ininterrupto de sua avalanche de palavras, imagens, promessas, ofertas, visões e descobertas acabaram por tornar On the road exatamente aquilo que o chavão define como “a bíblia de uma geração”.

On The Road foi a glória e a danação de Jack Kerouak. O livro primeiro misturou-se e em seguida engoliu a figura do autor. A fama tornou-se um fardo para Kerouac, e os estereótipos da geração beat o perturbaram e ofendiam.

No entanto toda uma legião de escritores, artistas, cineastas, dramaturgos e músicos, seria profundamente influenciada pelo estilo e pelas visões de Jack Kerouac.