sexta-feira, 27 de abril de 2012

Entrevista completa de Kristen e Garrett para a Revista Jalouse

Aparentemente, ainda existem um “grupo” de filmes, onde atores, técnicos e equipe compartilham algo por semanas e, em seguida partem de diferentes maneiras, sabendo o que eles terão todas as noites quando eles cantam juntos em volta de uma fogueira. Estando perto de Kristen e Garrett por algumas horas, você pode ver essa proximidade de imediato: a amizade definitivamente vem das filmagens/aventura. Eles podem ser jovens (21 anos e 26 anos), esses dois tem vivido e não importa o quão bonitos eles são, eles não são bobos:

Honestamente, nós gostamos de criticar, mas aqui nós teremos que nos curvar. Se os seus filmes não podem jogar a seu favor (Kristen com Crepúsculo e Garrett com Troia ), eles abordaram esta adaptação com tanta intensidade e inteligência que você pode ver nesta entrevista. A forma como eles ouviram sobre seus personagens e como eles retrataram com precisão ao interpretarem foi confirmada para nós pelos produtores e pelo escritor da biografia que estavam trabalhando como consultores no filme.

Eles estão felizes por se verem outra vez, Kristen e Garrett, são tão óbvios. Eles estavam alegres posando juntos, apertados um contra o outro em um velho e quebrado Chevrolet azul, que foi usado como um suporte para as fotos. Deitados, sentados ao volante, ao redor do carro, espalhados sobre o capô …

Eles riam e provocam-se mutuamente durante os intervalos, acendiam cigarros. Depois das fotos, os dois são entrevistados. Kristen, em uma camiseta branca e um short bem curto cortado de uma velha Levis ’501, senta em um banco, com aparência natural, apesar de seus olhos escurecidos para a sessão de fotos. Garrett é muito doce e realmente bonito, senta-se em um sofá em frente e abre sua primeira lata de Coca- Cola do dia. Depois de muito champanhe entre as fotos (o assistente realmente lhe mostrou como se serve como um cavalheiro, o que fez o ator rir: “Assim parece com uma mulher, você tem que beber pelo gargalo).

O Beat continua

Eles realmente queriam fazer este filme.

Kristen: Eu li On the Road quando eu tinha 14 anos. Foi o primeiro livro que me fez querer ler. Dois anos mais tarde, recebi o roteiro e me reuni com Walter. Às vezes você conhece pessoas e percebe que você quer fazer o trabalho pelas mesmas razões que eles. Qualquer que seja a conversa que estávamos tendo, nós compartilhamos um entusiasmo em comum, eu e ele sentimos a mesma energia. Quando eu fui embora, eu percebi que eu tinha ganhado o papel e saí pulando para todos os lados!

Garrett: Sim, você foi embora do nosso jantar por isso.

Kristen: O quê? Ah, certo, eu era muito nova.

LuAnne Anderson, a Marylou verdadeira, era jovem demais. Casou aos 15 anos com Neal Cassady, o verdadeiro Dean Moriarty. Garrett tinha 22 anos quando soube que ia interpretar o melhor amigo e cúmplice de Kerouac, ele disse, que o ajudou a abrir os olhos quando ele era adolescente e que ler o livro o fez sair de Minnesota. No set, ele comemorou seu 26 º aniversário. Durante os 4 anos de espera antes do orçamento ser finalizado, os atores nunca desanimaram. A persistência de “Walter Salles” foi notável. Ele preparou o projeto durante as filmagens de um documentário: na verdade, ele já tinha começado o filme antes mesmo de ser dado sinal verde”, diz Garrett. “Com Walter e uma equipe de 50 pessoas, nós fizemos uma viagem de NY para LA, tivemos que parar 9 vezes por problemas com o carro, mas nós fizemos e conseguimos.” Chile, Argentina, Nova Orleans, Arizona, Cidade do México, Montreal, San Francisco. As viagens feitas para as gravações do filme, forçou a equipe a viver como ciganos por vários meses. Os três atores principais tiveram que fazer o mesmo durante esta jornada, nenhum conforto ou regalia (nem os agentes estavam presentes o que é bastante raro nos EUA.)

Garrett: ”Nós apoiávamos um ao outro. Nós fomos como uma família por 6 meses. E é um sentimento que muitas vezes você tem nesta linha de trabalho, exceto que um mês depois você se encontra com uma família completamente diferente. Mas para ter um sentimento tão forte que você pertence a aquele lugar nem sempre acontece. Por isso este filme, foi realmente especial. ”

Kristen : ”Todo mundo que trabalhou nesse filme disse o mesmo, é raro fazer parte de uma experiência como essa. Se eu não tivesse feito parte dela, eu teria ficado com ciúmes! ”

Para fortalecer essa solidariedade, o produtor organizou uma excursão beatnik antes das filmagens: um mês submergindo a cultura da geração beat com leituras e exibições de filmes (todos os filmes de Cassavetes!). Foi uma prévia experiência comum que ajudou Kristen a se sentir familiarizada com sua personagem. “Eu tive a oportunidade de ouvir horas de gravação de LuAnne falando sobre aquele período, ouvindo a sua voz alegre quando ela falou sobre a maneira como ela dançava. Nós sabíamos tantos detalhes sobre as pessoas reais do livro, sobre suas vidas, que nos ajudou a interpretar cenas difíceis. Eles estavam com a gente. ”

Festa nu

Esta menina com uma personalidade forte e um sex appeal impressionante, que se juntou com dois amigos a bordo de uma Husdon de 1949, foi para Kristen um papel feminino bem raro, seja na literatura antiga ou no cinema de hoje . Luanne se apaixonou aos 14 anos porCassady . “Algo provavelmente despertou seus sentimentos por ele”, explica a atriz, enquanto se mexe em seu banquinho. “Nada do que ela fez foi marcado pelo medo. Ela era uma pessoa que libertou-se da inibição, ela não era alguém que estava com medo. Seus olhos se abriam quando se tratava de vida, sem julgamentos, ela é capaz de encontrar a beleza em todos nós. Eu invejo ela. Ela constantemente explode, ela quer que todos se sintam bem o tempo todo. ” Uma menina sem tabus, que esta dividida entre os dois amigos.

Comentários de Garrett: ”Ela entendeu que o ciúme não tinha qualquer significado. Ela sabia que seu homem estava dormindo em algum lugar e sua personalidade a fez querer tocar todo mundo.

Kristen: ”Ela não se esquivou de dormir com todos os amigos deles”, Kristen continua. A promiscuidade erótica!!!! na versão não censurada do livro (o manuscrito original publicada em 2007) deve estar no filme também. De fato, o filme apresenta algumas cenas quentes, para além de uma atmosfera de festas e excitação permanente, tudo reforçado pelo uso de drogas e do álcool. On the Road é desenfreado como a vida do trio deve ter sido. O trio iniciou a liberdade hippie na década de 1970 com uma ou duas décadas de antecedência. Para os atores, sexo e drogas faziam parte do contrato desde o início das filmagens, mas é difícil obter detalhes sobre como eles experimentaram isso pessoalmente no set. “Nós sentíamos muito amor por nossos personagens e queríamos que as pessoas amassem – os tanto quanto nós.” Ambos recordam. Nós compramos o seu entusiasmo.

Mesmo que a história seja dos anos cinquenta, o filme é atemporal com seus heróis que todo mundo pode se identificar, começando com os atores. Ambos confessam estarem completamente conquistados pelo espírito de estrada, a sede de liberdade, a busca por ‘aquela coisa’. Eles ainda tiveram uma lição filosófica disso: “Quando você sai da escola, você sente que o que você quer fazer está ao alcance da sua mão. Mas uma vez que a vida te faz tropeçar, você precisa trabalhar, você precisa ser bom. Em vez de sair correndo para conquistar a sua vida, você é parado pela vida e você acaba perdendo a sua admiração /espanto. ”

Kristen, no auge de sua carreira como uma atriz que trabalhou desde pequena, não queria perdê-la também. “Eu adoraria ser tão animada quanto esses caras eram. Eu adoraria ser assim todos os dias. Não tem nada a ver com a idade. ” Nós terminamos falando sobre o fim das filmagens do filme, sobre a desilusão e a separação. Garrett não pôde estar presente para a festa de encerramento por causa de outras obrigações (ele vai estar no próximo filme dos irmãos Cohen, ‘Inside Llewyn Davis’, que será filmado em breve em Nova York.)

“Você nem sequer assinou meu exemplar de On the Road ‘reprovou Kristen, que também alinhou os papéis enquanto filmava Branca de Neve, ao lado de Charlize Theron e, em seguida, irá reuni- se novamente com Bella (e Robert Pattinson) para Amanhecer – Parte2 . “Foi difícil, eu senti como se estivesse voltando para a escola”, ela confessa.

É como o fim das férias de verão.

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Scan da revista Trois Couleurs

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terça-feira, 24 de abril de 2012

Detalhes da trilha sonora de "On the Road"

Os detalhes do álbum da trilha sonora para o novo drama de Walter Salles "On the Road" foram revelados. O álbum inclui a trilha sonora original do filme escrito pelo compositor ganhador do Oscar Gustavo Santaolalla (Brokeback Mountain, Babel), bem como várias músicas presentes no filme por Coati Mundi, EllaFitzgerald, Son House e Gaillard Slim. A trilha sonora será lançado no exterior no próximo mês pela Universal Music da França. 




Trilha Sonora:


1. Sweet Sixteen – Greg Kramer
2. Roman Candles
3. Yep Roc Heresy – Coati Mundi
4. Reminiscence
5. Lovin’ It
6. The Open Road
7. Memories / Up to Speed
8. I’ve Got the World on a String – Ella Fitzgerald
9. That’s It
10. Keep it Rollin’
11. Hit That Jive Jack – Slim Gaillard
12. God Is Pooh Bear
13. Death Letter Blues – Son House
14. I Think of Dean
15. Jack Kerouac Reads ‘On the Road’ – Kerouac Jack




Fonte: Film Music Reporter

mais um poster de personagem

Danny Morgan é Ed Dunkel Fonte

Nova Still do filme

Sam Riley é Sal Paradise e Tom Sturridge é Carlo Max

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Walter Salles fala de adaptação do clássico de Kerouac ao Jornal O Globo


RIO - O novo filme de Walter Salles, "Na estrada" ("On the road"), será apresentado em competição no Festival de Cannes, a partir de 16 de maio. São muitas as razões da expectativa. A principal é a demora para que o clássico da literatura beat, publicado por Jack Kerouac em 1957, chegasse aos cinemas. Só a produtora americana Zoetrope, que financiou o filme ao lado da francesa MK2, tenta viabilizar o projeto desde 1980.

Salles juntou-se a esse desafio há oito anos. O diretor rodou os EUA, refazendo a viagem dos personagens Sal Paradise (alter ego do próprio Kerouac, no filme interpretado por Sam Riley) e Dean Moriarty (alter ego de Neal Cassady, vivido por Garret Hedlund), e entrevistou sobreviventes e admiradores do livro — o material dará origem a um documentário.

Em 2008, o último filme de Salles, "Linha de passe", deu a Sandra Corveloni o prêmio de melhor atriz em Cannes. Aquele foi o último ano em que um cineasta brasileiro participou da disputa pela Palma de Ouro.

É seu retorno a Cannes depois do sucesso de "Linha de passe", em 2008. Ao mesmo tempo, é o retorno de um cineasta brasileiro à competição principal do festival, também depois de 2008. Como se sente?

WALTER SALLES: Um festival como Cannes é aquele lugar em que o cinema ainda é um instrumento de conhecimento do mundo, e onde um filme começa a voar pelas próprias asas. É um ponto de encontro de cinematografias do mundo inteiro, antes de ser uma competição. Vamos felizes por termos sidos selecionados e, como "Diários de motocicleta" nos ensinou, sabendo que o fato de um filme ser bem recebido não significa que ele vá ser premiado. A seleção já é, em si, o prêmio.

O que "Na estrada" representa para sua carreira?

"On the road" é um amor de juventude. Eu tinha 18 anos e me apaixonei pela liberdade radical dos personagens de Kerouac, pela narrativa ritmada pelo jazz, pela forma como o sexo e as drogas são tratados à flor da pele, pela estrada como busca não só do outro, mas de si mesmo. O livro era diferente de tudo o que vivíamos no Brasil dos anos 1970 e do mundo em que eu vivia. Houve um antes e depois dessa experiência. O filme é o resultado de uma obsessão que começou nessa época. 

O quanto a experiência com "Diários de motocicleta"— também um road movie com jovens — ajudou na realização de "Na estada"? O quanto esses dois filmes são próximos para você?

O ponto em comum está no fato de que são dois filmes sobre a inquietação da juventude. A idade dos personagens dos dois filmes é parecida. Mas, enquanto os dois jovens de "Diários" são modificados pelo continente latino-americano e pelas pessoas que eles encontram no caminho, a viagem de "On the road" é para dentro, de autoconhecimento. A viagem iniciática de "Diários" vai desaguar numa revolução social e política, enquanto a de "On the road" vai acabar criando uma revolução comportamental. Nesse sentido, os dois filmes são complementares. 

O que tem ocorrido com os filmes brasileiros nos festivais internacionais? Por que Cannes, Berlim e Veneza, os três principais, não têm selecionado produções daqui para suas competições?

Porque o modelo brasileiro de financiamento está principalmente endereçado ao mercado. É o contrário de Argentina, México e agora Chile, que criaram mecanismos para alimentar cinematografias nacionais mais amplas, e por isso são constantemente visitados pelos principais selecionadores de festivais. O que não falta no Brasil é talento. Falta afinar o modelo. Ao mesmo tempo, é importante mencionar que estamos fazendo um dos melhores cinemas documentais do mundo. De Eduardo Coutinho a Flávia Castro, a safra dos últimos anos é de altíssima qualidade. 

Já o questionaram pelo fato de um dos mais importantes livros do EUA ir parar no cinema pelo olhar de um brasileiro? Você acha que essa distância da realidade do livro é importante para interpretar a história? 

Diferentes projetos de adaptação de "On the road" existem desde 1957. Não houve, sintomaticamente, quem financiasse esse filme nos Estados Unidos em 50 anos. Quando fui consultado pela Zoetrope (produtora californiana cujo proprietário é Francis Ford Coppola) depois da estreia de "Diários" no Festival de Sundance, em 2004, fiquei em dúvida se deveria aceitar. Daí a ideia de fazer um documentário sobre "On the road" e o legado de Kerouac, que venho filmando desde 2005. Um dos entrevistados, o poeta e ativista negro Amiri Baraka, nos disse que "On the road" era essencialmente uma história de filhos de imigrantes que não encontraram lugar nos EUA conservador do pós-guerra e entraram em colisão com esse país, ampliando as fronteiras comportamentais aceitas até então. Kerouac era filho de imigrantes canadenses; Ginsberg, de imigrantes judeus do Leste Europeu; Neal Cassady, neto de imigrantes irlandeses e alemães. Eram jovens que estavam entre culturas. O roteirista José Rivera, o mesmo de "Diários", também é filho de imigrantes. A nossa equipe era composta, como em "Diários", por gente que vinha de culturas diferentes, canadenses, franceses, latino-americanos, norte-americanos. O que nos unia era a paixão pelo livro de Kerouac.

´Em "Na estrada", você teve à sua disposição um elenco de jovens estrelas americanas, algumas, como Kristen Stewart, com uma base de fãs gigantesca. Certamente isso vai expandir o público do filme. Como você acha que a história será recebida pelos jovens de hoje?

"On the road" fala dos desejos de juventude, da necessidade de se experimentar as coisas na pele e não por procuração, da importância de se viver cada instante como se fosse o último, do primado da intuição sobre a razão. O livro propõe uma espécie de ressensibilização dos corpos e das mentes. Será que isso toca as pessoas hoje? Espero que sim. Ao mesmo tempo, é bom lembrar que o público que os atores atraem para certos filmes não se transfere necessariamente para outros. 

Desde 2011, "Na estrada" tem estado em todas as listas de expectativas de jornais e revistas, inclusive falando na possibilidade de prêmios antes mesmo de alguém ver o filme. Você sente parte dessa expectativa e, por consequência, pressão? 

Depois de cem mil quilômetros na estrada e oito anos de trabalho, o desejo de que o filme nasça é maior do que a tensão. É como o Mankiewicz (o diretor americano Joseph L. Mankiewicz) disse após terminar um filme complexo: "O próximo, eu quero filmar numa cabine telefônica."

Fonte

Matéria na Folha de São Paulo sobre OTR

No instante em que "Na Estrada", adaptação da obra de Jack Kerouac pelas mãos do brasileiro Walter Salles, estrear no 65º Festival de Cannes, uma jornada de mais de 30 anos estará concluída.

O caminho que ontem deu na seleção oficial do evento (de 16 a 27/5) começou em 1979, quando Francis Ford Coppola comprou os direitos para cinema. Desde então, o cineasta tentava levar o texto às telas. Mas o projeto só tomou forma quando Salles subiu a bordo, em 2004.

A reportagem é de Rodrigo Salem, publicada na edição desta sexta-feira (20) da Folha. A íntegra do texto está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.

"Alguém da produtora dele viu 'Diários de Motocicleta' e nos encontramos para falar de 'On the Road'", lembra Salles, 56. "O livro tinha me impactado, aos 18 anos. Fiquei marcado pela liberdade radical dos personagens. Era o oposto do que vivíamos no Brasil dos anos 1970."

"As dificuldades que encontramos foram sobretudo ligadas à complexidade do projeto e à necessidade de fazer o filme com um orçamento apertado [de US$ 25 milhões]. Mas os limites funcionaram a favor do longa."

Outros pontos ajudaram a produção, como a paixão dos atores pela obra original. Caso de Kristen Stewart, que vive Marylou. "'On the Road' era um dos livro de cabeceira dela", diz Salles, que dirigiu a estrela de "Crepúsculo" sem problemas, mesmo nas cenas de nudez total.

"Há uma qualidade libertária em Marylou, um desejo de experimentação, que Kristen conhecia bem." Sam Riley, que faz o alter ego de Kerouac, Sal Paradise, e Garrett Hedlund (o amigo Dean Moriarty), embarcaram logo depois. Mas quem impressionou foi Viggo Mortensen, no papel de William Burroughs. "Ele chegou pronto no set, com a roupa do personagem, a máquina de escrever e o revólver que ele usava em 1949. Foi uma transformação impressionante"

Fonte

Entrevista de Walter Salles para o Estadão


A expectativa acabou: Na Estrada, de Walter Salles, disputa mesmo a Palma de Ouro, prêmio principal de Cannes, o mais badalado dos grandes festivais de cinema. O título brasileiro é tradução literal de On the Road, o romance beat de Jack Kerouac, que influenciou o comportamento de várias gerações de jovens, antecipou o espírito hippie e a revolta dos anos 1960 e fez a cabeça de grande parte dos escritores da segunda metade do século 20 – e não apenas nos Estados Unidos.

Coube portanto a Walter Sales levar para a tela a viagem tão norte-americana quanto universal de Na Estrada, com seus três jovens personagens: o escritor Sal Paradise (Sam Riley), cuja vida entra em ebulição pela chegada de Dean Moriarty (Garrett Hedlund), um jovem libertário vindo do Oeste com sua namorada de 16 anos Marylou (Kristen Stewart). O filme inclui em seu elenco nomes como Viggo Mortensen, Steve Buscemi e a brasileira Alice Braga e estreia no Brasil em 15 de junho.

Várias vezes os estúdios já haviam desejado levar esse romance tão importante às telas. Dez tentativas, para citar o número exato, e nunca tiveram êxito. Chega agora pelas mãos desse brasileiro, que gosta tanto de filmes de estrada que fez vários desse gênero, como Terra Estrangeira, Central do Brasil e Diários de Motocicleta. Agora conduz, como diretor, o protótipo do gênero, num projeto cheio de desafios como conta na entrevista abaixo, exclusiva ao Caderno 2.

Entrevista

Vamos começar pelo começo: o romance. Dizem os críticos que foi uma revolução na cultura norte-americana, do mesmo porte de O Apanhador do Campo de Centeio, ou ainda maior. Está de acordo? Por quê?

Sim, foi um choque. On the Road foi um divisor de águas, pela liberdade radical que os seus personagens anunciavam, pela narrativa ritmada pelo jazz e pelo bebop, pelas drogas usadas como forma de ampliar o conhecimento do mundo, pela maneira como o sexo era vivido e descrito à flor da pele. On the Road lançou as raízes de uma revolução comportamental, o inicio da contracultura americana, e marcou a chegada de uma geração de novos escritores brilhantes. Mas o livro esteve longe de ser uma unanimidade. Truman Capote, por exemplo, dizia que aquilo não era literatura, e sim datilografia. Gore Vidal foi pelo mesmo caminho, assim como John Updike. A mesma divisão aconteceu com a crítica.

Como foi o desafio de filmar essa “instituição americana”, que tinha sido cogitada para ir às telas desde seu lançamento, em 1957?

É sintomático que mais de dez projetos tenham sido desenvolvidos e engavetados durante todos esses anos, e que nenhuma produtora norte-americana tenha se aventurado nessa tarefa. O Beat Museum de São Francisco está fazendo um seminário no mês que vem sobre o tema “On the Road X Hollywood”, para entender as razões desse desencontro. O filme acabou sendo possível graças à produtora independente francesa MK2, que o financiou com a ajuda do Film Four inglês e pequenos distribuidores independentes europeus que pre-compraram o filme. A Zoetrope é a co-produtora do filme, e foi dela que partiu o convite logo depois da exibição de Diarios de Motocicleta, em 2004, no Festival de Sundance.

Você se sentiu, como brasileiro, à vontade para lidar com essa ficção, no fundo tão americana? Ou acha que encontrou pontos universais para a transposição? Nesse caso, quais seriam?

Quando o convite aconteceu, fiquei em dúvida se devia aceitá-lo ou não. Fui profundamente marcado por On the Road, que eu li pela primeira vez nos anos 70. O livro era em tudo diferente daquilo que eu tinha lido até então, diferente do mundo em que eu vivia. Nada mais seria como antes. Mas isso também não era um passaporte para a adaptação, e por isso propus para a Zoetrope fazer um documentário que partisse em busca de On the Road e do legado de Kerouac. Esse processo foi fascinante, o de fazer um documentário em busca de um filme possível, e filmamos intermitentemente nos últimos seis anos. Um dos nossos entrevistados foi o poeta e ativista político Amiri Baraka. Baraka nos lembrou que On the Road era, antes de mais nada, a historia de jovens filhos de imigrantes nos Estados Unidos, que vinham do Quebec (Kerouac), do Leste Europeu (Ginsberg), da Irlanda e Alemanha (Neal Cassady). Esses jovens não tinham lugar na cultura conservadora norte-americana do pós-guerra, e entraram em colisão com ela. A compreensão de que as obras de Kerouac e de Ginsberg estão “entre culturas” nos franqueou, de alguma maneira, a possibilidade de olhar o país de fora para dentro.

Certamente algo o atrai nos filmes de estrada como atestam Terra Estrangeira, Diários de Motocicleta e também, é claro, Central do Brasil. São filmes de deslocamentos, tanto existenciais como físicos. Essa familiaridade (e preferência) o preparou para On the Road e de que maneira?

A questão da busca de identidade talvez seja o traço comum à maioria dos filmes que eu fiz, e os filmes de estrada servem essa temática. Por outro lado, os filmes de estrada são aqueles em que a improvisação se faz necessária a todo momento. Se neva, muda-se o roteiro para incorporar a neve. Se fazemos um encontro como o do jovem guia que nos mostra Cuzco e nos fala dos Incas e dos incapazes (os espanhóis), em Diarios de Motocicleta, procuramos incorporá-lo na narrativa. O filme de estrada é o ponto de encontro entre o cinema documental, de onde venho, e a ficção.

Outra coisa foi o documentário prévio que você fez, e do qual vimos um trecho, o Searching for On the Road. De que maneira ele o preparou para enfrentar o desafio da ficção de Kerouac?

Eu não teria feito o filme sem passar pelo documentário. Ele nos permitiu encontrar os personagens do livro que estão vivos, nos permitiu encontrar vários poetas da geração de Kerouac que formaram o movimento beat, além de artistas que foram influenciados pela obra do escritor. A cada uma dessas pessoas, nós perguntamos qual era o filme que eles gostariam de ver baseado em On the Road. Essas respostas foram nos norteando, abrindo pistas, possibilitando entender o quanto esta historia se aproximava de Rashomon. Para cada fato, havia uma serie versões possíveis para interpretá-lo. Foi um processo fascinante, que nos alimentou o tempo inteiro.

Como se deu a escolha do elenco? E do pessoal técnico?

A maior parte do elenco foi convidada no início do processo, há cinco anos. Kirsten Dunst foi a primeira pessoa com quem eu estive para falar de Camille. Garrett Hedlund surgiu num teste de elenco, vindo diretamente da fazenda onde ele morava em Minnesota, perto de Fargo, a cidade onde os irmãos Coen filmaram. Ele trouxe um texto sobre a viagem que ele havia realizado. Era tão marcante quanto o seu teste. Sam Riley também fez um ótimo teste depois de eu ter visto Control , e me encantado por sua performance como Ian Curtis. Kristen Stewart foi convidada quase tão cedo quanto Kirsten Dunst, graças a Gustavo Santaolalla e Alejandro Gonzalez Iñarritu, que haviam visto o primeiro corte do filme de Sean Penn, Na Natureza Selvagem. Eles disseram: para Marylou pare de procurar, pois acabamos de ver uma menina de 16 anos perfeita para o papel. Eu me lembro que tive que anotar, na época, o nome de Kristen. Quando o filme virou realidade, terminamos o processo de casting e foi aí que atores como Viggo Mortensen,Amy Adams, Steve Buscemi e Alice Braga entraram no filme. Viggo chegou com as roupas do personagem, a máquina de escrever, o revolver idêntico àquele utilizado por Burroughs. Ele também sugeriu uma serie de cenas adicionais, que improvisamos em Nova Orleans. Amy Adams é uma atriz excepcional, da mesma família de Viggo. E Alice entrou com coração e alma no filme, deu vida a uma personagem luminosa, exatamente como eu havia imaginado. A equipe técnica é em grande parte a mesma de Diarios de Motocicleta. O roteiro de Jose Rivera, luz e câmera de Eric Gautier, direção de arte de Carlos Conti e trilha sonora de Gustavo Santaolalla.

Como você resolveu o problema de colocar na tela toda a pulsação que se sente ao se ler Kerouac, aquele ritmo intenso, frenético mesmo?

É um filme que alterna momentos de aceleração com momentos em que o tempo parece suspenso, para acentuar a dor dos personagens. Era imprescindível fazer jus à espontaneidade, à improvisação que caracterizam o texto. O escritor Roberto Muggiati fala que a máquina de escrever era, para Kerouac, como a extensão do próprio corpo. E que ele entregava-se aos seus longos períodos como um saxofonista improvisando. Essa intensidade, era necessária reencontrá-la no filme.

O livro é sintomático daquela época, anos 1950, imediato pós-guerra, juventude perdida, a era beatinik, pré-hippie, pré- movimentos políticos de 1968. Como você acha que esse material se liga à nossa era atual, que parece mais de desencanto morno do que de revolta?

On the Road prega a importância de se viver à flor da pele, e não por procuração. O oposto da tele-realidade. Ainda faz sentido se mover, ver com seus próprios olhos, em um momento em que o tempo e a geografia foram implodidos, como Jia Zhang-Ke mostra esplendidamente em “O Mundo”? Uma possível resposta: nos últimos anos, fui diversas vezes a Patagônia para filmar ou fazer locações. Experimentei o frio, a aridez, me senti infinitamente pequeno no meio daquela imensidão. Tudo isso cria uma relação inesquecível com aquele meio-ambiente, o oposto do que teria acontecido se eu tivesse tido a experiência de olhar aquela geografia pela tela da televisão. Nada substitui a experiência.

Como foi a escolha de locações, que me parece devem ser muito importantes para recriar a ambiência daqueles anos e daquele tipo de mentalidade?

Bem mais difícil de que para Diários de Motocicleta, porque a América Latina ainda é, em muitos pontos, uma ultima fronteira. Para fazer On the Road, tivemos que rodar três ou quatro vezes mais, ir ainda mais longe. No total, 100.000 kms para tentar encontrar uma geografia virgem, que pudesse transmitir a ideia de que aqueles jovens estavam em busca da ultima fronteira norte-americana. Para isso, foi preciso desviar constantemente dos centros urbanos que hoje se parecem, todos, banalizados pelos Wal-Marts e McDonalds.

Os beats plantaram as sementes de uma revolução comportamental que, de certa forma, criou o nosso mundo de hoje. Será que a sua mensagem não se encontra atenuada neste nosso mundo já meio envelhecido e que não se espanta diante de nada? Ou ainda eles mantêm seu poder de corrosão?

On the Road iniciou uma revolução comportamental cuja reverberação pode ser sentida até hoje. Eduardo Bueno lembra com toda razão que não existiria Bob Dylan sem On the Road, não existiria Leonard Cohen ou Neal Young sem os poetas beat. Vivemos recentemente a mesma cultura do medo dos anos do macarthismo. Será que estamos tão distantes dessa época? Em alguns sentidos, sim, em outros não. Foi essa percepção que nos fez procurar realizar um filme que não estivesse situado em um tempo distante, e que fosse contemporâneo.

Em termos de distribuição internacional: à parte o Festival de Cannes, o filme já tem data para estreia mundial? E no Brasil?

O filme estreia na França e em diversos outros países europeus no dia 23 de maio. Outras estreias acontecerão até final de setembro, quando o filme chega à Inglaterra. No Brasil, a estreia acontecerá no dia 15 de junho.

Acha que ele será entendido de maneira diferente nos EUA, na Europa e no Brasil?

Sim, da mesma forma com que Diários de Motocicleta foi entendido de forma diferente dependendo da latitude. A leitura de Diários na Argentina, em Cuba ou nos Estados Unidos não poderia ser a mesma. Identicamente, deve-se imaginar que a leitura de On the Road deve variar bastante da Europa para os Estados Unidos, ou para América Latina. É importante notar, alias, que países como França e Itália abraçaram Kerouac, Ginsberg e os poetas beat muito cedo, como eles também fizeram com os músicos de jazz dos anos 40, no momento em que esses mesmos poetas ainda não eram devidamente reconhecidos no seu país de origem. Mais especificamente com relação a Kerouac, o escritor Barry Gifford, autor de uma excelente biografia oral chamada “O livro de Jack”, nos lembra que no final dos anos 70 e inicio dos anos 80 era difícil encontrar livros de Kerouac nas livrarias norte-americanas. Na Europa, acontecia o contrário.

Como autor, você teve total liberdade de fazer o filme como melhor lhe pareceu ou houve alguma injunção por parte da produção?

O filme foi financiado de forma independente pela produtora francesa Mk2, pelo Film Four (a mesma companhia independente inglesa que já havia financiado Diarios de Motocicleta) e pela pré-compra possibilitada por diversos pequenos distribuidores europeus. Da mesma forma como aconteceu com Diários, tive o corte final do filme. As dificuldades maiores estiveram ligadas ao orçamento disponível para fazer um filme tão complexo quanto esse, mas muitas vezes essas limitações funcionaram a favor do filme e não contra.

(Caderno 2)

Fonte

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mais pôsters de personagens do filme




On The Road na seleção oficial de Cannes!


É oficial! Na Estrada foi selecionado para competir pela Palma de Ouro em Cannes 2012! Walter Salles fala sobre a seleção: "Na Estrada" é um projeto para o qual um grupo de pessoas, muitas delas vindas da família de 'Diários de Motociclet...a', dedicou 7 anos de suas vidas. O fato do filme ter sido selecionado na Mostra principal do Festival de Cannes é um prêmio para os jovens atores e técnicos que deram tanto ao filme. Rodamos mais de 100 mil kms para filmá-lo, e isso dá uma ideia da aventura que vivemos. Na Estrada só existe por causa da paixão que todos nós tínhamos pelo livro de Kerouac, pela revolução comportamental que ele deflagrou. E, também, pela ação corajosa de produtores e distribuidores independentes que, liderados pela MK2 e associados a Zoetrope, tornaram o filme uma realidade,” A produtora American Zoetrope, de São Francisco, começou a idealizar o projeto há mais de 30 anos e realizou numa parceria inédita com a produtora francesa MK2, que adquiriu os diretos. No Brasil, o filme será lançado no dia 15 de junho, com distribuição da Playarte.