Muitos consideram 'On The Road', de Jack Kerouac, um texto sagrado. O romance foi, finalmente, originalmente transcrito para o roteiro.
Traduzido em 40 idiomas, milhões de cópias do clássico da geração Beat foram vendidos pelo mundo desde que o romance foi publicado em 1957, deixando-o entre os livros mais influentes do século 20.
Se tratando de cinema, entretanto, 'On The Road' enfrentou uma maldição de Kerouac. Esforços passados de Hollywood para adaptar o trabalho do autor foram falhos.
Agora, de certa forma calma, 'On The Road' finalmente foi feito em filme. A produção de $25 milhões, filmada em São Francisco, Montreal e outros locais, está prevista para ser lançada nesse outono.
Espera-se que o filme seja de interesse em São Fransisco onde os Beats e suas velhas obras são de insústria caseira. A cada ano, milhares de pessoas reunem-se em North Beach para visitar a livraria da Cidade Das Luzes e o bar Vesuvio, ou para se embasbacar com os artefatos de Kerouac no Museu Beat.
Mas com tanto interesse, vem a ansiedade. Adaptar qualquer livro amado para filme é perigoso e pode incomodar os fãs, especialmente quando se trata de um clássico literário onde a própria linguagem interpreta um papel -- algo nada fácil de se traduzir nas telas. 'On The Road' é particularmente assustador já que as ideias provocativas definem o romance -- sexo casual, uso de drogas e a rejeição pelo materialismo -- provavelmente não irão levantar as sombracelhas da múltipla audiência que se tem hoje.
A equipe de criação de outro filme de estrada contracultural está conduzindo o projeto: o diretor Walter Salles e o roteirista José Rivera da premiada biografia de Che Guevara, "Diários de Motocicleta".
O elenco está temperado com atores com muito apelo nas bilheterias, incluindo Kristen Stewart de 'Crepúsculo', Kirsten Dunst, Amy Adams e Viggo Mortensen. Os dois homens protagonistas, personagens baseados em Kerouac e seu parceiro Neal Cassady, são interpretados pelos atores menos conhecidos, Sam Riley e Garrett Hedlund.
Em Julho, antes da filmagem começar próxima aos sets em Montreal, o elenco e a produção passaram por uma experiência -- três semanas de imersão com especialistas em Kerouac.
Um "instrutor" era Gerald Nicosia, autor de "Memória Babe: uma biografia crítica de Jack Kerouac", considerado por muitos (incluindo William S. Burroughs) como a conta definitiva de Kerouac.
Ninguém do elenco e da produção tinha idade suficiente para lembrar da era beat, assim que o Sr. Nicosia, de Corte Madera, aproximou-se das sessões como se fosse o ensino de história antiga, "era como se eu estivesse trazendo o Santo Graal."
Ele disse que os atores eram especialmente intensos, sabendo que eles poderiam irritar muita gente se eles não retratassem os personagens fielmente.
No acampamento, o Sr. Nicósia mostrou uma entrevista em áudio que ele gravou em 1978 com Lu Anne Henderson, jovem esposa de Neal Cassady, na qual a personagem Marylou do luvro é baseada. Essa conversa é também a base de "One and Only: The Untold Story" (Um e Único: A História Não-Contada de "On The Road"), um novo livro do Sr. Nicósia para este outono.
O elenco e a equipe poderiam relacionar-se, er, profundamente? "Eles são todos muito pouco convencionais em suas próprias vidas", disse o Sr. Nicósia sobre os atores. "Se você é uma pessoa de fora, você entende o que é contracultural." Este esforço de autenticidade é um contraste gritante com muitos esforços passados para filmar o trabalho de Kerouac.
Seu romance "Os Subterrâneos", sobre um caso de amor interracial que foi transformado em um filme de 1960 estrelado por George Peppard e Leslie Caron (nota: ambos são brancos). E em 1980, "Heart Beat", sobre a vida de Kerouac, foi ridicularizada pelos críticos como tendo tanta substância literária quanto um Tic Tac. Sr. Nicósia disse que se preocupa se "On the Road " seria igualmente fracassado como foram frustradas as tentativas anteriores de fazer um filme desses. (Os produtores do filme não responderam aos pedidos de comentários.)
As preocupações continuam. Joanna McClure, uma poeta Beat, que foi imortalizada como um personagem do romance de Kerouac, "Big Sur", está curiosa sobre o novo filme, mas disse: "Foi a escrita que foi tão emocionante. Como você faz isso em um filme?"
A Sra. McClure também questionou se a audiência atual de um filme jovem, que ela descreveu como obcecado em "tentar entrar em empresas", podia compreender a história de omitir bens terrenos. "É preciso fazer um bom conto de fadas para eles pensarem sobre", disse ela. "As pessoas desejavam que eles vivessem em um mundo onde isso poderia acontecer."
No entanto, tais desejos ainda ressoam em São Francisco.
Gravity Goldberg, editora da revista literária local Instant City, disse que muitos dos pedidos que recebe hoje, são inspirados por Kerouac.
Se o sucesso final de Hollywood vier, ou não, o Beat continua.
Tradução: Sheila Andrade via: http://www.kstewartbr.com
Fonte: http://www.nytimes.com/2011/04/15/us/15bcjames.html?_r=3
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