sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Walter Salles conta o que sentiu ao ler On the Road pela primeira vez


Não é novidade que Walter Salles e On the Road andam juntos pela estrada afora. Mas a L&PM, – que publica o livro tanto na Coleção POCKET, como On The Road - o manuscrito original em formato convencional – tinha a maior curiosidade em saber quando o cineasta teve o primeiro contato com a obra de Jack Kerouak. Trabalhando incansavelmente para levar aos cinemas um dos maiores clássicos da geração beat, Waltinho respondeu a nossas perguntas, segundo ele mesmo, de forma “pessoal”. Ao ler essa pequena, mas sincera entrevista, você vai descobrir, inclusive, o que ele pensa da tradução brasileira.

L&PM: Quantos anos você tinha quando leu On the Road pela primeira vez? E o que sentiu?
W.S.: Tinha dezoito anos e me lembro ainda hoje de como fiquei impactado por aquela primeira leitura. Havia muito mais desejo de experimentação e de transgressão em On the road do que em qualquer outra narrativa que eu tinha lido até ali - incluindo “O Apanhador no Campo do Centeio”, do Salinger, que eu também tinha adorado com quinze, dezesseis anos. Voltei ao livro várias vezes, inclusive antes de dirigir “Diários de Motocicleta”. Mais recentemente, descobri a versão original escrita por Kerouac, ainda mais livre e radical do que a versão editada em 1957. Não é difícil entender porque: durante os anos 50, os Estados Unidos viviam os anos negros do mccarthismo. Um exemplo: nos primeiros romances de Norman Mailer como “The Naked and the Dead”, os personagens não podiam dizer “fuck you, man”, Mailer era obrigado a escrever “fug you, man”. Kerouac foi vítima dessa mesma censura, que o poeta Michael Mc Clure chama de “censorship of the language”. A violência emocional na versão original de On the Road também vai além daquela presente na versão publicada nos final dos anos 50.

L&PM: Desde que leu o livro pensava em adaptar a obra para o cinema?
W.S.: Não, de forma alguma... a própria possibilidade de fazer cinema era algo distante naquele momento. Aos dezessete, dezoito anos, eu estava mais interessado na fotografia do que na imagem em movimento. Cartier Bresson, Kertez, Doisneau e Kudelka eram os pontos de referência... Aos poucos, fui passando da fotografia para o documentário, e deste para a ficção. E entre um ou outro trabalho no cinema, ainda volto para minha velha Leica com uma única lente, a 50mm.

L&PM: E você leu a tradução brasileira? O que acha dela?
W.S.: Nasci em 1956, um ano antes da publicação de On the Road. Se tivesse algumas décadas a menos, teria descoberto On the Road na versão brasileira. A tradução é ótima, aliás... viva, com a musicalidade do texto original, o que não era nada fácil de atingir. A introdução de Eduardo Bueno na versão brasileira é muito boa... melhor e mais instigante do que os textos que acompanham a versão do “scroll” que saiu no original.

L&PM: On the Road, o filme, é uma estrada sem fim ou tortuosa?
W.S.: A exemplo de “Diários de Motocicleta”, o projeto de On the Road já teve tantas encarnações que uma resposta definitiva só poderá ser dada quando a claquete do último plano da filmagem for batida. O que pode tornar o filme possível é a paixão de uma produtora independente francesa, a MK2, pelo projeto, e a fidelidade dos atores que convidei para fazer parte do processo em 2008. Mas novamente, certeza mesmo, só quando as filmagens forem terminadas e o filme for projetado na tela do cinema...

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